Mulher x futebol: porque não eu?

Depois de tanto ceder, o futebol é apenas um detalhe…

Sabe aquela cena clássica de futebol x mulher na busca pela atenção? Quando o futebol começa na televisão, há quem deixe todas as outras coisas de lado. Tão cômica quanto verdadeira, acontece muito. E não foi só do dia dos namorados. E não é só na Copa. É a vida a dois tentando achar seu equilíbrio.

 O que é combinado não sai caro. Então, porque não torcer juntos, amar juntos, sair juntos, tudo em seu momento? Chegar a um acordo, no entanto, pode ser um exercício de empatia, com muita tolerância e uma pitada de firmeza nas decisões. Parece simples, fácil e, até mesmo, óbvio – como muita coisa quando está na teoria. Então, por que esses detalhes chamam a atenção, incomodam e estressam? Não vale soltar aquelas máximas (toscas) que “mulher é dramática” ou “é assim mesmo”, “sempre foi assim”.

Não é pelo futebol, não é ser contra a alegria. É que a gente já se anula demais. O “nós” substitui o “eu”, que fica sem espaço. Quando já são idos muitos aniversários de namoro/casamento tem sempre alguém que se depara com uma figura diferente no espelho. A dinâmica do casal, inclui adaptações e concessões, que vão moldando ambos com o passar do tempo, com a convivência. Por isso, sem a busca do autoconhecimento, é fácil perder o rumo.

Os rumos que a vida toma vão construindo o que temos e somos, o que escolhemos ou deixamos que escolhessem por nós. E para fazer valer a pena não basta somar momentos bons e ruins. É preciso ter visão, entender o que se quer e, principalmente, o que não se quer de jeito nenhum.

Quais são os seus valores fundamentais? O objetivo dos dois é o mesmo? E os caminhos que pretendem seguir para chegar lá? É isso que homens e mulheres precisam saber responder. O futebol é apenas um detalhe, mas pode ser a gota d’água. Então, escolha: vai ficar contra a Copa ou vai mudar o que realmente importa?

Família 2.0: a diversidade no núcleo

flia freepik

Maio sempre foi mês das noivas e das mães. O que teria de novo agora, então? Não há exatamente UMA novidade, mas uma sequência de acontecimentos que nos convidam a repensar a construção da família e suas práticas. Não vim aqui dizer que a família é uma instituição falida, arcaica ou coisa semelhante. É justamente o oposto. A psicologia e a sociologia, entre outras ciências, já provaram o papel vital que tem esse núcleo.

No formato clássico, seria uma formação de grupo simples, surgida de duas pessoas que geram ou adotam descendentes. O que vemos agora, no entanto, não tem nada de simples. São casais, trios e grandes grupos pleiteando a denominação “família”. Isso implica pedir que toda a sociedade os entenda, considere seu apelo e mude suas estruturas mais básicas para abrigar novos conceitos, inseri-los social e legalmente. Estamos prontos pra isso? Queremos estar?

No Brasil, o STF considerou que o conceito de família, presente na Constituição, era meramente ilustrativa ao se referir à composição por “homem e mulher”. Ou seja: a  família existe para além dos muros da quantidade de pessoas, genética e gênero dos envolvidos – e seus direitos estão garantidos, quer sejam culturalmente aceitos ou não. Temos de aprender a conviver com a diversidade, pois ela bate à nossa porta, aparentemente sem ser convidada, e nos incita a olhar para as bases de cada preconceito e máscara que desenvolvemos ao longo de uma vida toda. A mudança, meus caros, é inevitável. Com ela, geralmente vem o receio, o conflito e por fim, o consenso. [Será?]

Recentemente, até o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) mudou para atender às descobertas sobre a primeira infância – como ela é poderosa ao moldar o caráter da criança, sua capacidade de aprender e interagir com o mundo, o que ela irá se tornar quando for adulta. Estatutos, normas e convenções têm se rendido ao conhecimento que nossa era propicia. Aliás, esse é o maior desafio de nossa geração: internalizar o que é bom e rumar para a direção certa, sem nos perdermos pelo caminho.

Como na primeira infância, ainda estamos “engatinhando” no que diz respeito a nós mesmos, nossa individualidade manifesta em pluralidade dos estilos de vida, famílias, tipos de amor. A mim parece que tudo isso deriva de um ponto apenas: a imensidão de potencialidades de cada ser humano. Queremos sempre algo, nunca declaramos o ponto final quando ainda podemos nos transformar. A quantidade de mudanças, a ponto de nos fazer divergir tanto, mostra apenas o nosso ponto de convergência, o que temos em comum e de melhor: a busca.  Constante, incessante, ela faz nos mobiliza, mostra toda a garra que temos (e que talvez desconhecêssemos), aplicada ao que acreditamos e o que nos faz feliz. [E porque essa divagação é importante no assunto? Ora, ao saber o que nos torna semelhantes, é mais fácil ter empatia e optar pelo consenso. Quem sabe assim, conseguiremos traçar objetivos vislumbrando o que realmente importa…]

Deixo várias lacunas neste texto, pois o assunto me parece inesgotável até o momento. Mesmo assim, prometo desenvolver aos poucos os inúmeros pontos de interrogação que pairam sobre as cabeças que o leem (inclusive a minha). As descobertas veem aos poucos, junto com as novas situações, a diversidade de questões, abordagens e opiniões que ainda estão por vir.

Igualdade de gênero e o bom sexo: saiba o que eles têm em comum

Vou começar falando do dia a dia e partir pro sexo depois. Meu conselho: vá até o fim. Você vai gostar.

igualdade genero

  Ironicamente, é exatamente no dia da mulher que mais ouvimos comentários machistas (alguns por maldade, outros por mera burrice). Hipocritamente, é justamente tentando demonstrar solicitude e boa vontade que várias pessoas se traem, mostrando que possuem pouco ou nenhum reconhecimento/valorização em relação às mulheres. “Ajude sua mãe a lavar louça, pois hoje é o dia da mulher”; “valorizar a sensibilidade”; “você que é mãe, mulher, guerreira, trabalhadora, etc.” entre outras frases clichês que contém a expressão “sexo frágil”. Todas essas palavras deixam evidente que não só se acredita que mulher deva ser aquela sensível, frágil, sempre bem arrumada (vitrine do marido, ou da família), seguindo os padrões de beleza cultuados; como também preconizam que a mulher que se sacrifica (com tripla jornada, filhos, marido, trabalho e perrengues gerais) deva continuar se sacrificando e, uma vez ao ano, receber os parabéns por isso.

É lindo (apesar de inútil) receber flores, bombons e parabéns pelo nosso dia. No entanto, não devemos celebrar quem somos. [Não?! Por quê??!] Ora, porque não está bom desse jeito. E é óbvio que a mudança não depende apenas de nós, mulheres. Quer ver só? Tripla jornada: A mulher atual grita por mudanças, tem sede de conquistas, de ser amada, de ser compreendida em casa e admirada no trabalho – como é de se esperar de qualquer pessoa normal (homem ou mulher) com alguma ambição na vida. Daí a bonita vai e se mata de trabalhar, quer ficar em dia com unha, cabelo maquiagem, sentir-se desejada e bem vista. A solteira vai ouvir da mãe/tia/pai/tio/irmão/irmã machista quando chega exausta do trabalho ou faculdade: “você tem que lavar a louça e aprender a cozinhar para quando arrumar um marido. Falando nisso, ainda não arranjou namorado?” A casada vai estar sempre exaurida por tentar deixar tudo perfeito nos trilhos, ficar com depressão e depois ainda ouvir da vizinha que o marido a deixou porque ela não se cuidava, só vivia trabalhando fora de casa, não dava atenção ao bofe, engordou e daí já viu…

Meu parecer: isso é abominavelmente, obscenamente, maquiavelicamente injusto, desumano e cruel [obs.: não achei nenhuma outra palavra pior pra descrever e, se souber de alguma, me conte]. Se você já protagonizou alguma dessas cenas, tá na hora de fazer terapia e sair pra ver como o mundo mudou no século XXI (já que seu habitat natural é o século XIII). Então, você que é homem: ter um pouco de empatia por outro ser humano não te faz menos hétero. Dividir as tarefas de casa entre os que nela habitam só vai depender de um pouco de vontade e uma tabela de afazeres grudada na geladeira. Se você vê que a coitada da sua mãe/irmã/mulher está se MAAA-TAAAAN-DOO de trabalhar pra você ficar sentado jogando vídeo game, tenha um pouco de dignidade e vá ajudar. Seja útil (dentro e fora de casa).  Hoje existem cursos grátis ou bem baratos, para maiores e menores de idade. “Ahh… mas eu cheguei em casa com dor de cabeça depois da reunião e to com raivinha do Almeida da contabilidade, blá-blá-blá…” Pois é filhão, não tá fácil pra ninguém mesmo! Agora vai ajudar a fazer a janta ou compra pronto e manda entregar, porque a comida não vai brotar no seu pratinho, ok? Moral da história: isso é um pouquinho daquela velha conversa de igualdade de gênero, aplicada no dia-a-dia. É claro que não fica por aí. Há muito mais para ver, pensar, estudar, conquistar, mudar nesse quesito, que não caberia aqui. E como nosso foco é o sexo, vamos ao que interessa.

genero

Todo mundo já ouviu dizer que homem tem mais testosterona e, portanto, mais desejo que as mulheres. Essa é a parte que te contaram. O que não te contaram é que só acreditar nisso não ajuda na hora H. Pergunta básica: você é do tipo que se preocupa com o prazer dela? Ou se acha no direito de se ofender se ela (coitada) tem até que fingir o orgasmo pra não te desapontar? Faz assim, ó: pergunta o que ela gosta, presta atenção nas reações que ela tem a cada toque, olhar, beijo, etc. Não é difícil. Eu sei que é mais fácil culpar a mocinha por não chegar lá, maaasss… nada muda se você não mudar.

Comecei falando do dia a dia, dos aspectos gerais da vida comum porque eles influenciam na qualidade de vida, na quantidade de sono e de humor que temos – e, consequentemente, no sexo, no prazer, no afeto e na alegria. Está tudo ligado. Não vá pensando que o seu papel se restringe só uma área (trabalho ou sexo). Aliás, essa história de papel já está bem ultrapassada. E quando digo ultrapassado não é só fora de moda, não. É insustentável continuarmos a viver seguindo esse modelo. Tentar viver como nossos bisavós é entrar de cabeça no fracasso pessoal e familiar, colapso econômico e social. E o que isso tudo tem a ver com o sexo? Tem a ver com felicidade. Sexo é indicativo, sintoma e reflexo do que vivemos em outros âmbitos. Pessoas traumatizadas ou doentes não encaram/fazem sexo da mesma forma que as saudáveis. Por isso, parar no tempo em relação aos nossos pares é regredir e apostar as fichas em um sistema insustentável, que gera gente doente e frustrada.

Observe como anda o sexo e a sua parceira – no caso dos homens. Ela está realmente contente? No que você poderia melhorar? Sabe o que ela gosta, de verdade? Se não, comece a se mexer. É hora de agir. E cada um tem seu jeito para seduzir, chegar ao clima e ao clímax. Não tem receita pronta. É praticar com muita atenção para aprender sempre. [Força, fé e foco, que você consegue].

Para as mulheres: comece a exigir dos homens (deixando de se cobrar tanto e de permitir que te pressionem) – em todos os âmbitos: sexo, família, profissão. A igualdade começa por aí. Não seja tão passiva e muito menos complacente com o que está à sua volta. Pense em você em primeiro lugar. Valorize-se e não permita que te depreciem. Aproveite a vida, o sexo, usando a seu favor seus melhores atributos. E feliz dia da mulher!

Corpos perfeitos não me satisfazem

Se o desejo e a satisfação estão muito além do visual, não deixe que sejam calados os apelos de outros quatro sentidos

beijo-signo

Ver e querer faz sentido, sim. Queremos rostos e corpos lindos, cobertos ou semi-nus, tanto faz se o que esconde as delícias é um véu transparente ou uma burca. Mas não só. Há os prazeres do olfato, a audição, o tato o e o paladar, que também gritam pelo seu lugar, por mais atenção. Não é à toa que ficaram conhecidas as expressões “cair de boca”, “cheirar o cangote” e que “o ponto G da mulher fica no ouvido”, que são utilizadas em vários sentidos, apesar de serem bem sugestivas para o significado original.

Sentir o calor, a textura, o efeito de diferentes intensidades/força em cada momento. Quem lê já deve estar imaginando alguma cena, puxando algo da memória que tenha ficado marcado pelo prazer que isso dá. Claro! É o tato mostrando a que veio. E a boa notícia é: pra ter isso nem precisa ver muita coisa – temos carta branca pra fazer de luz apagada.

Sabe aquela vontade irresistível de beijar, lamber, morder? Pois é! Meus(inhas) caros(as), este é o paladar. Façam bom uso dele e todos agradecem – inclusive você. E o cheiro? Quem nunca se encantou com o perfume de alguém? Quem nunca se lembrou de outra pessoa ao sentir um aroma familiar? Isso sem falar naquilo que a voz profere (não apenas palavras, como sussurros, gemidos, respirações arfantes), que só fazem sentido pra os envolvidos e que têm significados mil.

Agora que já lembrei a vocês dos sentidos [injustamente] esquecidos, volto ao ponto principal: Esse jogo entre ser e parecer cai por terra quando não há mais como usar máscaras. Roupas, maquiagem, pose e status não valem nada na prova final entre quatro paredes. É ali que as vontades mais escondidas se revelam – e as capacidades também. Quem nunca ouviu aquela frase “Mas o que ele(a) viu nela(e), sendo um(a) tão bonito(a) e outro(a) feio(a)?” Bommm… Acho que agora está explicado! E daí se um dos dois não tem o corpo que tentam lhe impor como bom/interessante?

Um ideal sem motivos não se sustenta – seja de beleza, de comportamento ou status. O que é bonito na novela, revistas, etc., não me basta. É preciso mais que uma boa maquiagem [no caso delas], corpinho de quem “puxa ferro” [no caso deles] ou meia dúzia de suplementos para convencer sobre quem vale a pena. Engraçado notar que quem busca a “perfeição”se esquece que não sabe o que a palavra significa para si e qual seria a aplicação para a própria vida. Em outras palavras, se perguntarmos a alguém que “compra” o ideal de mulher/homem perfeito(a), é bem possível que esse(a) não saiba explicar o que é perfeição e qual é o sentido de buscá-la.

Essa perfeição sem graça, sem gosto, sem som e sem paladar não me pega tão fácil. Sou muito mais o pacote completo com mais a oferecer. E isso porque estamos falando apenas da parte física da questão. A inteligência, o comportamento e a educação são, com certeza, altos atributos a serem levados em conta na escolha de um(a) parceiro(a) – mas isso já é assunto pra uma outra conversa…

…Beijos e bom proveito em tudo o que os seus sentidos permitirem!

Igreja Católica: pedofilia longe da redenção

igreja

Uma semana pós Painel da ONU confrontar publicamente o Vaticano, exigindo explicações sobre a postura da Igreja Católica perante crimes sexuais praticados por seus sacerdotes, vêm à tona arquivos que relatam detalhes dos abusos praticados entre as décadas de 60 e 80 na Arquidiocese de Chicago (EUA). Os processos, que envolviam 30 padres da cidade, foram divulgados na internet após acordo com advogados das vítimas de pedofilia.

A Santa Sé, que é signatária da Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças, foi forçada a admitir que os escândalos de abusos são “a vergonha da Igreja”, na tentativa de se redimir com a sociedade não apenas pelos crimes, como também pelo silêncio que mantinham para si e impunham aos outros, transferindo padres sabidamente pedófilos de cidade em cidade, sempre que eram descobertos.  Essa foi apenas uma das posturas da igreja que colaboraram para a proliferação epidêmica de crimes, que oprimiam impunemente a fiéis e “pagãos”.

A notícia é um remédio amargo a toda a sociedade, que serve não só para sanar práticas presentes em uma das instituições mais antigas do mundo, como também para aqueles que, apesar de estarem fora da igreja, pertencem ao mesmo contexto em que ela se insere e, querendo ou não, acabam sofrendo influência dessa direta ou indiretamente.

Não penso que abusos sejam triste exclusividade da igreja católica. Não estamos livres da possibilidade de sermos vítimas de crimes simplesmente porque estamos nesta ou naquela profissão, casta, religião, cor, segmento social, etc. Os diversos casos noticiados mostram a disseminação do problema e a abrangência de afetados. Entretanto, o peso que a instituição teve (e tem) na História Mundial, torna sua responsabilidade ainda maior.

A formação cultural e social do Brasil, desde a época da colonização, esteve profundamente ligada à Igreja Católica. Nossa história é, sim, recente – principalmente em termos de transformações sociais e culturais.

No entanto, o problema não é só da Igreja, mas também de uma conjuntura bem maior, que gera pessoas em situação de vulnerabilidade social, à mercê de charlatães que prometem mudança em troca de “favores” ou da permissividade em relação a seus delitos e caprichos. Falo de padres, mas também de pastores, parentes de vítimas, professores, e médicos – pessoas que se valem das circunstâncias (a exemplo de sua atividade profissional ou proximidade parental) para abusar de outros menos favorecidos ou que não estão aptos a se defender. Como geralmente são as crianças as mais frágeis perante os abusos, se tornam alvos fáceis. Em outras palavras, a história é a seguinte: na tentativa de se cativar um círculo de pessoas, os pedófilos oferecem apoio moral e/ou material. Quando ganham a confiança dos pais, cometem os crimes – mas continuam sendo consideradas acima de qualquer suspeitas por se mostrarem “boas” pessoas em público.

O problema aumenta quando somado à responsabilidade que se atribui à Igreja e à religião, mas não é um problema “deles”, dos sacerdotes e beatas. Existem incontáveis casos e inúmeros fatores que colocam as crianças em risco, mas acredito o número de abusos seria menor se apenas fosse reduzida a dependência (moral e/ou material) das famílias sobre os sacerdotes. Precisamos aceitar que as igrejas, dirigidas por homens falíveis, não são perfeitas. Não é aconselhável depositar todas as fichas em apenas uma pessoa ou instituição – ainda que nos pareça, em princípio, que essa seja sinônimo de bênçãos e redenção.

Uma geração sem HPV é possível

Demos o primeiro passo para proteger nossas crianças e adolescentes contra o vírus que pode causar o 2º câncer mais nocivo a mulheres: o do colo do útero.

v

 Este é um texto otimista, inspirado por uma novidade providencial sobre a saúde em terras brasileiras. A parte que vocês já sabem: serão vacinadas contra o Papiloma Vírus Humano (HPV), por meio da rede pública, meninas de 11 a 13 anos, a partir de março deste ano, com estimativa de atender até 15 milhões de garotas. E tem mais: em 2015 a oferta se estenderá às de 9 e 10 anos. A vacina será a quadrivalente, que abrange os quatro tipos de vírus responsáveis pela maioria dos casos.

O que muita gente ainda não percebeu é que isso não significa apenas uma forma de prevenção que é oferecida gratuitamente às nossas crianças – o que, aliás, não é pouco num país chamado Brasil. Antes, quem queria se proteger tinha que desembolsar de R$ 400 a R$ 700,00 na rede privada. E isso quando alguém era informada(o) sobre os riscos do vírus, pois como não havia vacinação na rede pública, também não havia informação a respeito ou mesmo campanhas de prevenção significativas.

E a questão vai além: mostra um conhecimento técnico e análise cultural em um olhar “de cima para baixo”, ou seja, dos órgãos públicos sobre a população; além de um movimento construtivo do cidadão [na melhor acepção da palavra] para consigo mesmo. Isso fica evidente quando percebemos que vários fatores foram levados em conta:

  1. Em jovens a reação a vacina é mais eficaz na proteção contra o vírus;
  2. A vacinação é feita antes ou no início da vida sexual, que tem acontecido em idades cada vez menores (e que o digam os professores e outros profissionais que lidam com tais públicos);
  3. O primeiro público a ser imunizado, o feminino, é o que mais teve prejuízo até agora, em razão do câncer de colo do útero (o 2º que mais mata mulheres no Brasil e fica atrás apenas do câncer de mama);
  4. A histórica falta de informação/campanha/conscientização sobre o HPV;
  5. O perigo do hábito de não usar camisinha nas relações sexuais – geralmente motivado por fatores típicos de adolescentes (mas não exclusivamente deles): a irresponsabilidade de acreditar que doenças venéreas só são pegas pelo vizinho e “nunca comigo”; a mentira que contamos para nós mesmos de que “sabemos” que estamos saudáveis (mesmo não tendo feito nenhum exame); o bloqueio de se conversar sobre o assunto em vários círculos sociais(que, aliás, começa em casa).

 A hora de falar a respeito

Quando o assunto é saúde a coisa começa a ficar séria (ou deveria). Por isso, acredito que a aplicação da vacina, que vai coincidir com o começo do ano escolar, pode trazer à baila conversas de corredor entre aqueles pais ou professores que ainda têm medo de falar de sexo ou se perdem na idade, por sempre achar que é cedo demais. “Caramba, mas minha filhinha/aluninha, tão nova, já se vacinou contra uma DST? Como assim?” Pois é! Quem sabe essa não seja sua deixa? Ah! E não só para falar como também estudar o assunto. E aí, que tal? Falar de sexo não é o mesmo que falar de sacanagem. Isso você deixa para as novelas, que isso elas fazem muito bem. Fale que é preciso cuidar do corpo, que nós temos fases da vida, que seres humanos foram feitos para viver em sociedade, formam famílias a partir de casais, e essas duplas têm uma dinâmica especial de convivência (motivada pela natureza, que nos “inspira” à reprodução para continuação da espécie), que inclui o sexo. Por certo, a criança não tem metade do repertório de imagens e informações que circulam na sua mente e, portanto, não terá a mesma interpretação que você. [Assim espero].

Informação x Conscientização

Todos os dias ficamos sabendo de casos (criminosos, bizarros ou apenas inusitados) de erotização de diversos públicos jovens. Isso, muitas vezes, apenas capta a atenção por poucos instantes. No entanto, raramente isso encoraja uma nova ideia sobre os padrões, a saúde (física, mental, emocional) das próximas gerações, o que estamos “engolindo” e sobre o que nos colocamos como meros expectadores. Por isso, a oferta da vacina é uma novidade com potencial gerador de outras boas discussões, boas ideias, novas visões e quebra de bloqueios, tabus, medos em relação ao sexo – principalmente, na área relacionada à saúde e ao futuro.

Otimismo

Sem a vacina, a probabilidade de adquirir o vírus, entre o início da vida sexual até os 80 anos, era de até 80%. Agora, as jovens vacinadas ficam imunizadas por vinte anos, quando têm de tomar outra dose de reforço. Também é uma chamada ao cuidado com o corpo, que elas devem entender desde cedo como algo necessário, até vital. Isso confere mais um ponto na lista de responsabilidades que levam a pensar duas vezes antes de fazer qualquer besteira. É claro que estarão imunizadas, mas só contra o HPV, não contra um universo inteiro de riscos iminentes derivados do sexo, que requerem dos navegantes muita cautela, bom senso e amor próprio.

Que o início deste ano faça repercutir o que poderia ter em toda a sua extensão de tempo: boas novas. E não é tarde demais para dizer: por um 2014 (com razão de ser) otimista!

HIV: ainda não nos livramos deste risco

Uma geração cercada de informações, outra muito segura de si, pais com vergonha de falar sobre sexo com os filhos, carnavais (de época e micaretas), sexo sem proteção em relacionamentos estáveis: está aí o cenário perfeito para a doença se alastrar.

aids2

Dezembro marca uma série de acontecimentos que cercam o tema. O dia 1º do mês é emblemático: Dia Mundial da Luta Contra a Aids. Pelo mundo todo, pesquisas trazem avanços que apontam para a cura da doença; A ONU anuncia novas diretrizes para o tratamento de adolescentes com HIV como público específico digno de atenção; No Brasil, o Ministério da Saúde determina tratamento imediato para quem se descobre infectado. Com tanta informação, cabe uma análise dos fatos.

Em números
Desde a descoberta do vírus no Brasil (1980) até 2010 foram registrados quase 600 mil casos. Houve redução entre 2002 e 2007, mas depois a taxa voltou a subir. No país, a doença leva a morte de 12 mil pessoas por ano.
Entre 1980 e 1997, 46% das crianças cujos pais estavam com AIDS também possuíam a doença; em 2009 esse percentual caiu para 18%, graças aos tratamentos disponíveis e o diagnóstico dos pais.

A “Era da Informação”
Há quem se deixe levar por boatos; há quem entenda superficialmente e divulgue informações equivocadas a seu modo, além dos que fazem os dois itens anteriores apenas por “humor” (de gosto duvidoso). Aos incautos quase informados: A Revista Super Interessante divulgou há algum tempo que as pesquisas sobre (uma eventual) cura para a AIDS estavam avançadas. Também há avanços em termos de vacina, objetivo pelo qual o Instituto Butantan segue em estudos. Para os que se dispuseram a ler, no entanto, a notícia não era apenas oba-oba. De forma bem realista, era dito que AINDA não se obteve a tal cura.

Sexo na terceira idade.
Graças às evoluções da medicina, a expectativa de vida no Brasil aumentou, existem diversos tratamentos e remédios para se manter saudável e feliz por mais tempo. E isso inclui ter uma vida sexualmente ativa. Mas essa turma toda que ingressou no grupo dos “praticantes” tem se esquecido de tomar alguns cuidados. É preciso usar proteção nessa idade? Se quisermos evitar doenças, sim! Foi-se o tempo em que se pensava que AIDS atingia apenas a drogados e prostitutas.

O tabu familiar de se tocar no assunto
Transforme o medo de falar sobre sexo com seus filhos. O problema geralmente é que o assunto traga conhecimentos impróprios para a idade, mas eu tenho uma notícia pra você: falar de sexo é diferente de falar de sacanagem. Por isso, aproveite o tema “saúde” e converse sobre problemas e prevenção. O que vale é o ato de amor, de se preocupar com seus rebentos.

“Mas meu compromisso é sério…”
O relacionamento não define o que a pessoa carrega no sangue. Além disso, o(a) parceiro(a) pode nem saber que tem o HIV. Na dúvida, faça o teste. Atualmente, os tratamentos permitem que a pessoa leve uma vida normal. Há cada vez mais pessoas quem têm o vírus e consiguem gerar filhos saudáveis.

“Mas foi só uma noite…”
Como o HIV não se transmite por etapas, uma noite basta para contrair o vírus. O número de infectados sobre logo após os diagnósticos de carnaval. Vamos lá, gente! Camisinhas são distribuídas de graça e aos montes nessa época. Literalmente, não custa nada usar.

cura021

Espero que essas informações tenham sido benéficas a você. Um abraço e bom sexo a todos!

Como detectar (e se proteger de) um agressor

*"Eu te amo" em francês - a imagem é parte de uma campanha francesa que mostra as frases mais usadas para justificar as agressões.

*”Eu te amo” em francês – a imagem é parte de uma campanha francesa que mostra as frases mais usadas para justificar as agressões.

A violência contra mulheres já é considerada uma epidemia pela Organização das Nações Unidas (ONU). Já virou rotina vermos nos noticiários homens que agridem, estupram, ameaçam e até matam suas companheiras (ou respectivas filhas, sobrinhas, mulheres em geral que têm menos poder físico perante ele) quando se sentem ameaçados em seus papéis dominantes. Ciúmes, não aceitação da separação, além de outras razões ainda mais banais têm servido de desculpa para diversos crimes. Até aí nenhuma novidade. A questão agora é um alerta para mulheres quanto a suas companhias.
Como mulher e como jornalista que pesquisa o tema, deixo aqui algumas dicas que aprendi com os estudos e com a vivência das agruras que cercam meu gênero. Basicamente, há duas categorias de potenciais criminosos: psicopatas (sim, eles estão entre nós e não apenas nos filmes) e aqueles passionalmente motivados. Comecemos pelos psicopatas:
1. Não são capazes de sentir empatia, solidariedade ou ter um ato de caridade sem segundas intenções;
2. Não se arrependem quando prejudicam alguém, mesmo sabendo perfeitamente o mal que causaram – tendo racionalidade e não afetividade;
3. Sentem prazer em dominar causando dor, humilhação, medo, etc. Muitos começam a demonstrar essas características quando ainda são crianças, torturando pequenos animais ou coleguinhas;
4. São pessoas frias e calculistas, mas que sabem usar charme (atributos físicos e “lábia”) para conquistar a confiança de suas vítimas. Não se deixe levar por palavras bonitas. É ver para crer onde mora, como é a família, o trabalho, os amigos.
5. Eles são os reis da mentira. Fique com a antena ligada para detectar contradições e deslizes. Na dúvida, desconfie.
6. Possuem propósitos bem específicos ao se relacionar com alguém. Buscam tirar vantagem em tudo. Portanto, não libere a senha do cartão, chave de casa ou do carro com tanta facilidade, mesmo que ele faça “cena”.
7. Agressividade, grosseria e comportamentos bruscos quando ficam frustrados em suas vontades – alegando posteriormente que já sofreram na infância, é uma fase ou que são assim porque amam demais;
8. Percebem quais são suas fragilidades em matéria de convencimento e usam isso a favor deles;
9. Acreditam que nunca serão pegos em suas trapaças e, por isso, vão se tornando cada vez mais ousados em seus intentos;
10. São manipuladores e mestres em “inverter” o jogo – colocar a mulher no papel de culpada pelos erros que ele comete;
11. Saem de cena quando não tem mais a fonte de seus interesses (dinheiro fácil, status, comodidade, dominação) para satisfazê-los e vão atrás do próximo golpe;
12. A única coisa capaz de fazê-los parar é a possibilidade efetiva de punição.

Quanto aos crimes passionais, geralmente são praticados por aqueles que se sentem donos da mulher. Sendo assim, moças, vamos evitar homens excessivamente ciumentos, briguentos, etc. Que tal deixar de dar (milhões de) segundaSSS chanceSSS para quem claramente não vai mudar. E não sou só eu que digo. As estatísticas também mostram.
Uma pesquisa da USP entrevistou 362 jovens e concluiu que 75% deles já sofreram algum tipo de violência física, verbal ou sexual durante o namoro, sendo as mulheres as maiores vítimas. Esse comportamento (tanto do agressor como do agredido) está se tornando natural. Ladies, isso NÃO pode acontecer. NÃO permitam!
A pesquisa também mostrou que a violência começa como verbal, vai para a física e descamba de vez na sexual. Então, não se submeta a esse ciclo – não permita que ele comece. Quando acaba o respeito é sinal que o amor acabou faz tempo ou nem sequer existiu. Tenha amor PRÓPRIO e orgulho de não dever obediência a um algoz. Arrume suas coisas e dê um tchau bem sorridente para ele. Não olhe pra trás e não tenha medo de seguir sozinha. O que te espera pode não ser a solidão, mas a SOLIDEZ.
Há uma frase bem clichê pra isso, mas é perfeita para a ocasião: Tem coisas que a gente não perde, e sim das quais se LIVRA.

Para saber sobre a pesquisa, clique na reportagem: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2013/10/tres-em-cada-quatro-jovens-relatam-casos-de-agressao-no-namoro.html

A “mídia” é você quem faz

Charge-Midia3-web

Ouço muita gente crendo e pregando que a mídia é manipuladora, usurpa a capacidade de escolha e dita muitas regras – por vezes de modo subjetivo ou até “subliminar”. É como se ela fosse uma besta apocalíptica de ventas fumegantes, pronta para atacar os pobres cidadãos, convertidos (contra sua vontade) à condição de consumidores cegos e submissos.
Bom, quem é maior de 18 e responde às consequências de seus atos (ou deveria) sabe que se vitimar nem sempre funciona – seja perante a lei ou no correr cotidiano da vida, nas relações de trabalho, família, etc. A lógica de mercado leva ao seguinte raciocínio: publica-se o que o público gosta porque assim podemos vender. O “gosto” se descobre por meio de estatísticas diversas, além do ibope. Publicamos e vendemos o que atrai o público. A relação entre mídia e espectador é direta e reflete comportamentos estabelecidos em uma sociedade por sua cultura – ou seja, definido pela sociedade e para/com a sociedade. Se o que se coloca ali não representa esta ou aquela pessoa, pelo menos representa a maioria ou um segmento significante.
Há quem diga que os anunciantes, a “indústria da moda, a “indústria da beleza” dizem o que deveremos querer, ser, ter e/ou parecer. Ora, em um mundo com tanta informação, que oferece tantas possibilidades de ação e pensamento, parece um pouco ingênuo pensar que exista uma força manipuladora onipotente – quase como a definição de destino – da mídia frente à capacidade humana de escolha, fato que também nega a singularidade dos indivíduos (com o perdão da redundância) .
Há quem diga que existe “maldade” ou “perversidade” na mídia. De fato, pode existir, mas o problema não é a mídia, nem a lógica de mercado – esses são meras ferramentas de trabalho, mecanismos do sistema em que vivemos, desprovidos de sentimentos ou personalidade. A questão é quem a conduz: seu próprio povo.
A mídia, meus caros(as), é conduzida por seres humanos pensantes e direcionada a finalidades objetivas, como o lucro e o alcance de resultados. Apenas isso. Violência, machismo, estereótipos, corrupção e tantos outros males não têm raiz na mídia, mas em um modelo historicamente prejudicado e prejudicial. Também não adiantará combate-los nas imagens, sons e palavras pela mídia emitidos. Fotos, vídeos, sons e textos retratam algo que, de fato, existe ou existiu – e não meros ecos de uma ficção.
Enquanto estivermos culpando a moldura e pintando o mesmo quadro, a realidade permanecerá estagnada. Enquanto se nega as devidas responsabilidades, não se busca solução. Culpar a mídia é fácil, difícil é encarar que ela reflete quem realmente somos.

Sobre homofobia, ratos e Cazuza

Cazuza1

“Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro…Transformam o país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro”. Podemos dizer que essas frases – retiradas de “O tempo não para” (Cazuza) – falam aos monopólios, reivindicando um olhar mais justo perante excluídos, principalmente no âmbito cultural e ideológico. Podemos também entender que Cazuza tenha sido, de fato, tudo o que a música diz. E talvez, justamente por isso, ele tenha razão em seu posicionamento – ninguém melhor para falar do assunto.

Quando se fala de dependentes químicos, viciados de toda natureza, gente pobre que se voltou à criminalidade, o entendimento da segregação geralmente é aceito, até em níveis de vitimização e piedade, tolerância com o marginalizado. No entanto, o posicionamento é diferente quando o assunto é homoafetividade. Especula-se causas por doença, degeneração moral, tentativa de destruição da instituição familiar, entre outros. Esses argumentos logo são derrubados quando se percebe que não existe mobilização de homossexuais (bi, trans, etc.) contra a família e/ou valores que permitem a convivência em sociedade. Pelo contrário, são os defensores da heteronormatividade que se empenham em impedir o cumprimento de direitos [dos] e a formação de famílias de homossexuais.

Existe um dogmatismo fanático que prega heterossexualidade a todo custo, utilizando-a como símbolo de que há apenas uma alternativa “correta” – como se caráter se resumisse à orientação sexual. Quem defende a não pluralidade de opiniões costuma afirmar que o faz em defesa da “família natural” [por Deus, o que é isso, afinal?!], do modo como está na Bíblia [como se não houvessem milhares de interpretações…], que acha que deve ser como a natureza fez [vá morar em uma caverna, então], etc.

A homofobia (esteja disfarçada em negligência, medo, nojo, etc.) é apenas uma das demonstrações de medo que certas pessoas e grupos têm de perder o controle sobre um monopólio em que alguns tomam a si mesmos como padrão normativo. É o medo de que cada vez mais gente passe a pensar fora de “cabrestos” culturais impostos como forma de controle e (quase) regulamentação, que prega conduta única entre as diferentes pessoas.

Entender o outro como diferente e ruim (ladrão, bicha, maconheiro) – e até mesmo perceber o próximo como “outro” e não pertencente ao “nós” mostra como se estabelecem bloqueios, mecanismos de segregação que a sociedade vai aceitando, unindo a outros conceitos considerados críveis. Isso torna a marginalização (não pertencimento) algo natural e, para alguns, até desejável.

Mas, afinal, de que nos serve construir tantas barreiras? A quem isso é funcional? A que interesses serve? É apenas efeito da imaginação medrosa de meia dúzia de ratos receosos pela mudança. Permito-me encerrar cantando: “Tuas ideias não correspondem aos fatos. O tempo não para!”

cazuza-21

Previous Older Entries