“Sou vitorioso”: um relato sobre a (re)conquista do corpo

Responsável por diversos projetos pioneiros em prol de causas dos deficientes, na região de Ponta Porã (MS), o professor Thiago Ogeda fala um pouco sobre afeto, autoestima e sexo após a doença que o levou à cadeira de rodas.

 

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1.  Como surgiu seu interesse pela causa dos deficientes?

Em um primeiro momento, nunca se passa na cabeça da pessoa que uma dia ela poderá ser deficiente, como no meu caso, que não nasci com nenhum tipo de deficiência. Somente em Março de 2004 aos 18 anos de idade tive uma lesão medular devido uma mielite transversa aguda (inflamação medular). Foi diante dessa luta que surgiu o interesse, pois vamos passando por etapas, nas quais conhecemos a enfermidade, superamos e nos adaptamos, devido à dificuldade pra se locomover, as dores, a mudança total na sensibilidade, etc. O medo não tem como evitar, é preciso desafia-lo a todo momento e, assim alcançando a vitória. E foi com minha vitória que tive o interesse de estar passando tudo que vivi para outras pessoas que estão no mesmo barco, lutando e descobrindo que é possível viver muito feliz. Deixando de lado suas limitações e desenvolvendo suas capacitações, os dons que Deus nos concebeu.

2. Há quanto tempo você está trabalhando pela causa?

Foi em Brasília , quando conheci o Centro de Especialidades Internacional de Neurociência – sarah kubitschek Hospital de Reabilitação. Grande aliado da minha superação e vontade de estar passando a outras pessoas o que aprendi. Em primeiro momento só ia visitando pessoas, conversando, ajudando da forma que podia. E neste ano surgiu o IECAPP- Instituto Esportivo e Cultural Adaptado de Ponta Porã. Através de amigos e parceiros que também aderiram essa ideia de estar ajudando de forma voluntária essas pessoas que tanto necessita de ajuda. E o mais impressionante é saber que em nossa cidade existem 14 mil pessoas com algum tipo de deficiência, 28% da população. O triste é não ver essas pessoas inclusas na sociedade.

3. Pela sua experiência com deficientes, você acredita que exista desconhecimento sobre a saúde no que diz respeito à parte sexual? E preconceito, existe?

Acredito que com os deficientes que já nasceram com algum tipo de deficiência seja mais tranquilo, embora com quem teve somente no decorrer da vida seja mais complicado. Porque realmente há uma grande diferença, mais com jeitinho vai se adequando, se conhecendo e tendo o mesmo prazer, se satisfazendo completamente. O preconceito é algo que sempre vai existir apesar da existência estar maior na pessoa que tem a deficiência. O “parceiro ou parceira” na verdade tem a curiosidade de conhecer esse mundo diferente. Acaba sendo muito legal quando os dois criam um entrosamento. Acredito que seja isso com todos até mesmo com pessoas sem deficiência.

4. Quais são os desafios enfrentados pelos deficientes na área afetiva?

Falando por mim, não tive problemas nessa questão de afetividade, acredito que vai de cada personalidade do ser humano. Sempre tive muita facilidade de me aproximar de outras pessoas. Sempre fui atendido com maior carinho. Tenho até, vamos se dizer, “fãs”, pois se espelham muito em mim, devido à minha dedicação em tudo que faço. Muitos querem me conhecer pra bater um papo. Acho legal isso!  (risos)

Thi5.  Em sua opinião, a autoestima é afetada pela deficiência? Como proceder para que isso não aconteça?

Com certeza, principalmente se a pessoa não aceita que ela tem uma deficiência. Encaro de forma como um desafio, sempre lutando pra melhorar, mais também focando minha vida em outras coisas, como exemplo: Estudo, trabalho, relacionamento e família. Se a pessoa ficar só pensando na deficiência que tem ela pira o “cabeção” e entra em uma profunda depressão.

6. O que você pode contar de sua experiência pessoal em relação à vida afetiva e autoestima?

Nossa, graças a Deus sou muito feliz na questão de relação afetiva, sempre fui bastante namorador (risos), tenho muitas amizades que cultivo de forma absurda de boa. E minha autoestima vem das pessoas que me amam, que torcem por mim, enviam aquela energia que preciso. Tudo que tenho é graças a minha família, que sempre me apoia em tudo que faço. Não tem um dia que eu não agradeça a Deus por tudo que me deu, tenho somente anjos a minha volta, que me protegem e não deixam de forma alguma que eu esmoreça. SOU VITORIOSO!